quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O ESTILO SENHOR KALOTA...


 “RESPIRANDO COM O SKA ROCK BRASILEIRO”

Por Visso Lana


A independência de estilos e pegadas do Ska Rock Versão à Brasileira, faz com que o Senhor Kalota siga na sua proposta de vanguarda. Realizando uma mistura Ska Rock, Reggae e Dub, rítmicos e acentuados em simplesmente Rock, se bem que em determinados momentos ele chega a ir além do Ska e se fortalecer no BRock. Não por ser rock nem por ser nacional, e sim por constituir uma produção cultural crucial para os jovens em diferentes gerações, e ainda continuar sendo desdenhado pelos meios acadêmicos, que vestem jeans, porém não se dobram à irreverência e aparente falta de lógica do discurso descabelado juvenil.

Há os que definem o Senhor Kalota como um passeio pela essência nacional do Rock “Paralâmico” (Paralamas do Sucesso), porém mais contemporâneo e herdado ao longo dos anos no underground do nosso País.

Para tanto, em nosso enfoque somos vanguardista, temos a geração do rock dos anos 80, que começou, na verdade, no fim dos anos 70 e embalou até o fim dos 80 para ressurgir ao final dos 90 em um surpreendente revival – diga-se de passagem, de algo que não sumiu, apenas ficou bastante enfraquecido, latente, com o brilho de outras tendências musicais como o sertanejo, o axé, o pagode, a dance music, etc.

Não teria o Senhor Kalota, um espaço mais digno para se tratar de forma séria (mas não sisuda) um tema tão pertinente? Certamente. Contudo, o rock continua carecendo de uma consideração maior de seus contemporâneos em quinze anos depois da virada do milênio.

Definir um “Trabalho Rock" ou “Rock”, é muito difícil se considerarmos todas as faces que ele assumiu desde o seu nascimento – cujo marco de nascimento real é incerto.
Por isso, preferimos tratar a linha do rock brasileiro como um todo, como gênero ligado às manifestações do rock internacional independente dos estilos ou época, relatado numa linguagem do nosso dia-a-dia, e mantendo especificidades históricas que não se traduzem apenas no som, mas na atitude de um cenário: músico, crítico e público.

No Brasil dos anos 80, Blitz, Ritchie, Lobão, Lulu Santos, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, RPM, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Kid Abelha, Ira!, Capital Inicial, Camisa de Vênus, Inocentes, Plebe Rude, Biquíni Cavadão, Nenhum de Nós, etc., responderam cada qual de sua forma pelas múltiplas faces do rock/pop.

Nos anos 90, Titãs, Paralamas, Legião Urbana, Ultraje, Ira!, Kid Abelha continuaram, com maior ou menor sucesso. Após a segunda metade dos anos 90 e num novo milênio, convivem com uma nova geração que recebeu o bastão de quem se foi, trilhando os caminhos abertos pelos veteranos. Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S.A., Skank, Pato Fu, Raimundos, Second Come, Devotos do Ódio, Pin Ups, Karnak, Charlie Brown Jr., Planet Hemp, Killing Chainsaw, Os Ostras, Paulo Francis Vai Pro Céu, Loop B, Brincando de Deus, Concreteness, Yo-Ho-Delic, CPM 22, Detonautas, Pitty e muitos, muitos outros.

Propomos, portanto, trabalhar numa visão de rock atual os dois quadros panorâmicos: o Ska Rock nacional dos anos 80 e 90 com “pitadas” do que se espera numa banda BRock (Rock Brasileiro). Ainda assim, cremos que esbarramos em muitas coisas do novo milênio, pertencendo às questões que acercam a divulgação da cultura rock no Brasil – o que implica também passar por questões pertinentes à produção e à assimilação dessa cultura rock.

Por tantas questões, tentamos romper um espaço, que para as bandas nacionais sempre foi significativo, temos atenção em especial e não esquecemos o fato da própria euforia do rock alternativo nos Estados Unidos (com o estouro internacional do Nirvana e das bandas da cidade de Seattle – antes somente conhecida por gerar Jimi Hendrix e os aviões Boeing) e na Inglaterra (ainda que o hype vencesse o milênio e viesse reviver mais à frente com o estouro do Oasis e o britpop). Uma época em que a relação da imprensa com os figurões do rock nacional eram, por sua vez, repleta de brigas e reconciliações, amores e ódios efêmeros ou eternos.

Não somente o alternativo "de lá" ganhou o carinho dos jornalistas (sempre mais próximos das fontes do que os leitores), deixando muitos leitores curiosos sobre a produção do "subterrâneo" internacional, passando o próprio alternativo nacional a ser alvo de maiores atenções. Um grande exemplo disso foi a explosão nos anos 90 de bandas “under” tipo Sugar Cubs. E no Brasil o interesse por bandas na linha dos mineiros do grande e extinto Virna Lisi, com uma pegada Punk à Brasileira, contratada pela MCA da América, fez perceber uma grande crença na concretização de um espaço alternativo como nos moldes do espaço internacional, constituído a partir da emergência do punk nacional, mas que não durou muito por causa da “chuva” oportunista dos descartáveis que lotaram o mercado da música logo após.

O Senhor Kalota, não como somente uma banda nacional, mas como uma banda que reflete o BRock, respira a matéria-prima do rock, e não somente a música. Ao contrário do que pensam os que ouvem Pink Floyd ou Emerson, Lake and Palmer (como os jovens que os ouviam há 25 anos). Pois se Rock definisse só em música, os conservatórios e as faculdades de música estariam fornecendo roqueiros aos montes. Juan S. Bach já fazia Rock. Tinha uma atitude que a Igreja não apoiava na música, mas era o sentimento, a adrenalina, o Rock. A matéria-prima do rock é a emoção, tanto do músico quanto do público (seja esse público uma grande parcela dos jovens como os próprios críticos, que não deixam de ser jovens na sua maioria).

Para a crítica, o sucesso limitado das bandas deve-se ao fato de estarem tocando algo "fora do lugar", imitando ícones independentes do exterior. “No Brasil, a Internet e a TV por assinatura aproximam a moçada roqueira de todos os lançamentos do planeta. Independentes ou não. As opções de shows não aumentaram muito, mas as gravações sim. Tudo mudou? E para melhor? Perdão, mas a coisa continua feia para quem pretende fazer rock no Brasil. O pessoal costuma confundir gravação independente com mercado independente. Mas o mercado ainda não existe. (...) há veteranos na estrada independente, que têm uma carreira de verdade, um trabalho consistente. Mas passa longe do grande público”.

Enxergamos numa ótica que, enquanto uns ficam injustamente escondidos, outros que já se foram emergem do passado, como uma onda no mar da História recente do pop. Jogada de marketing ou ressaca de criatividade? O fato é que muitas bandas do rock nacional dos anos 80 reaparecem na memória de seus antigos fãs e conquistam a nova geração que começa a ouvir rock nesse momento. Não é, porém, um resgate, e sim, uma face pop do Rock Brasileiro. Deveriam sim, resgatar essas relíquias semeadas, mas nas versões das bandas independentes com histórias e novas pegadas, que dariam um novo seguimento à raiz do rock Brasileiro.

Não sentimos o rock como uma forma "pura" esteja ele localizado nos anos 50, 60, 70 ou 80. Não se pode querer que ele continue "na crista da onda" por todo o tempo, mas não significa que ele está morto. Parece mais que ele está à espreita, esperando o momento certo para acabar com a tranqüilidade do mundo. Pode ser que ele não venha da forma que nós, fãs da guitarra distorcida e da cara de mau, esperamos. O tecno, o rap, o hip-hop parecem abandonar os guetos para conquistar cada vez mais jovens, longe dos olhos da grande mídia. Estilos e modas que ganham simpatia pelas texturas diferentes que apresentam; mas a proposta de estilos e crítica, proximidade e tactabilidade estão lá. Não terá sido mera coincidência que o primeiro rap, do África Bambataa tenha se chamado, "Planet Rock"...

Nós, no Senhor Kalota, fazemos o nosso “ensaio do rock nacional” como uma banda hoje, de "rock brasileiro", sem “pieguisse”, reconhecemos que podemos renascer o rock no Brasil e nos obrigar a sair de uma posição comodista, de músicos ou simplesmente fãs do universo pop, para portarmos mais criticamente em relação a nossa própria trajetória (e a de nossos amigos roqueiros) sem achá-la óbvia demais, mas também sem sentir culpa por estarmos buscando diversão em uma arte que ainda torna nossa vida mais plena de sentido. A Majestade, Rock And Roll!


...E POR ACREDITAR, O SENHOR KALOTA ESTÁ AÍ HOJE FOCADO NA CENA UNDER DO PAÍS, PRA FORTALECER UM MERCADO REALMENTE BRASILEIRO!!!